Goleiro fará seu 15º jogo consecutivo como titular no sábado, diante do América-MG, e relembra chegada ao clube após desistir de renovar com o São Paulo já caneta em punho e contrato na mão
Frieza e coragem. As características que fazem Matheus Cunha aumentar a cada rodada a confiança do torcedor foram as mesmas que abriram o caminho para chegar ao Flamengo.
Cria das categorias de base do São Paulo, ele tinha caneta na mão e contrato na mesa para assinar uma renovação, mas surpreendeu a diretoria tricolor ao pedir um tempo para pensar. Era o fim da linha no Morumbi para o início de uma trajetória com “padrinhos” do quilate de Rogério Ceni, Diego Alves e Jorge Sampaoli no Ninho do Urubu.
Aos 39 min do 2º tempo – cabeceio defendido de Nino do Fluminense contra o Flamengo
Entre os treinadores, Rogério foi quem deu sinal verde para a chegada, em 2020, e Sampaoli o responsável pela aposta como titular – 17 dos 25 jogos entre os profissionais foram pelas mãos do argentino. O paizão, no entanto, é mesmo Diego Alves, e não somente pelas brincadeiras e comparações feitas por torcedores nas redes sociais:
– Fico muito feliz por isso. Brincam que o Diego é meu pai, mas ele foi meu pai mesmo aqui no Flamengo. Sempre que eu podia, pedia informação e ele me dava as respostas do melhor caminho a seguir, o que fazer dentro de campo. O Diego é uma resenha só.
– Até hoje, conversamos e brincamos bastante, temos um grupo onde nos falamos muito. Ele é muito alegre. Onde está, é risada na certa e tive o privilégio de aprender com ele.
Campeão da Libertadores e da Copa do Brasil do ano passado como segunda opção no banco – atrás justamente de Diego Alves -, Matheus Cunha começou 2023 como azarão e se tornou titular absoluto da meta rubro-negra. A facilidade no jogo com os pés conquistou um Jorge Sampaoli que repetiu o padrão de outros clubes.
Nomes como Vanderlei, no Santos, e Rafael, no Atlético-MG, foram sacados para a entrada de um goleiro com capacidade de defender e jogar – nos dois casos, Éverson. No Flamengo, as oscilações de Santos abriram um espaço que Cunha ocupou e não deu brecha nem mesmo para o recém-contratado Agustín Rossi.
Aos 34 min do 1º tempo – finalização certa de Vitor Roque do Athletico-PR contra o Flamengo
– Nem nos meus melhores sonhos imaginava isso. Ainda vou fazer três anos de Flamengo e já tenho essas oportunidades, que são fruto de muito trabalho desde cedo. Tem hora que não cai a ficha. É muito gratificante poder representar a camisa mais pesada do Brasil.
Já são 14 jogos consecutivos como dono da posição e defesas marcantes com a com as pontas dos dedos em finalização de Vitor Roque no primeiro tempo da partida contra o Athletico-PR, na Arena da Baixada, pela Copa do Brasil, indicada como preferida pelo próprio goleiro (assista em vídeo acima) Fruto de trabalho exaustivo com os preparadores Rogério Maia e Tiago Eller.
– Sempre observamos os vídeos e temos conversas internas para avaliar os jogos. A evolução do posicionamento faz com que as defesas pareçam ser mais fáceis. Todos os dias tento corrigir o que errei para atingir minha melhor forma.
Matheus Cunha pega seu primeiro pênalti pelo Flamengo, e Maraca lotado vibra
O pênalti defendido em cobrança de Yago Pikachu na vitória sobre o Fortaleza, pelo Brasileirão, exemplifica quão detalhado é esse dia a dia. Matheus revelou ao ge que estudou um material com 38 cobranças do jogador antes do confronto. Isso porque nem se tratava de um jogo de mata-mata.
Goleiro titular mais jovem da Série A, o rubro-negro aproveita a boa fase para traçar novos sonhos. Com histórico de convocações para as seleções de base, Matheus Cunha coloca Paris no radar e os Jogos Olímpicos de 2024 como meta:
– É um sonho vestir a camisa da Seleção. Tive a oportunidade na base, no Sub-15, Sub-17 e no Sub-20, e disputar uma Olimpíada seria um sonho. É minha próxima meta. Sempre que me perguntam aqui, deixo muito claro.
Inspiração em verde e amarelo ele já tem: Ederson, também cria da base do São Paulo e seu ídolo.
– É o melhor do mundo não só pela batida, mas pelo passe. Os motivos para dar aquele passe, como vai ser o passe, o passe de eliminação… Depois que a gente entende isso, não tem como: ele é o melhor.
Enquanto a CBF não divulga a programação da seleção olímpica que será comandada por Ramon Menezes, Matheus Cunha direciona suas energias para o Flamengo e tem lugar garantido sábado, diante do América-MG, às 16h (de Brasília), no Maracanã. A partida é válida pela 16ª rodada do Brasileirão, e a equipe ocupa a vice-liderança, com 27 pontos, 12 atrás do líder Botafogo.
Confira outros trechos da entrevista
Apoio de Rogério Ceni
– Quando saí do São Paulo e vim para cá, tive uma conversa com ele. Tem até uma história engraçada. Eu estava com a caneta na mão para renovar o contrato com o São Paulo, resolvi pensar mais um pouco e decidi não renovar. Vim para cá e a história está sendo escrita. Muita coisa ali envolvia um pessoal que estava no São Paulo, politicagem, essas coisas, e deu tudo certo vindo para cá.
Início no futebol
– O São Paulo fazia monitoramento dos jovens. Então, você de três em três meses ia lá, passava uma semana em avaliação, depois voltava para casa… Era assim até o Sub-14, quando o atleta pode morar no CT. Sou de uma cidade pequena (Tupi Paulista – SP), venho de uma família humilde, e todo mundo fazia vaquinha para ajudar na chuteira, uniforme, ônibus. Sou muito grato por tudo que fizeram por mim. Até por isso, sempre que posso estou lá para reunir o pessoal e dar atenção.
Disputa por posição
– O dia a dia é muito bom e um ajuda o outro. Não tem frescura. O Santos e o Rossi têm muita experiência, muita rodagem, e isso bota o sarrafo lá em cima na hora do jogo, né?! São dois caras muito bons. Não posso ir mal, porque eles querem a posição. Faço meu melhor sempre para seguir dessa forma.
Frieza
– Sou muito tranquilo, frio e calmo. Procuro resolver as coisas da melhor maneira possível, sou assim fora de campo, e isso me ajuda nas tomadas de decisão. Tem que ser assim, porque a pressão é grande.
Jogo com os pés
– Sempre gostei muito de jogar com os pés. Sou muito fã do Ederson. Acompanho desde pequeno, observava a batida na bola, via vídeos desses lançamentos longos que ele dá. Estudo muito os tipos de passes que existem, me sinto à vontade. Gosto muito desse estilo e me sinto adaptado e tranquilo.
Exigências de Sampaoli
– Tenho que estudar bastante. Depende muito da característica do time adversário, em que altura eles vão nos pressionar, da característica de nossos jogadores, qual passe que vou ter que dar. Tudo isso é importante e facilita o nosso trabalho.
Fontes www.ge.globo.com.br