Colegas de profissão comentam as características do talento do mais popular humorista do país, que morreu na terça-feira (04/05), de COVID-19, aos 42 anos
Carisma, timing para comédia e personagens simples, de fácil identificação. Tais características, apontadas por atores e comediantes mineiros, marcam o trabalho de Paulo Gustavo. Mas não só o dele, como também o de outros pares. Então, por que Paulo Gustavo, que morreu na última terça-feira (04/05), aos 42 anos, vítima de COVID-19, e não outro conseguiu falar para as multidões alcançando o mesmo impacto, fosse no teatro, na televisão ou no cinema?
Magia, aponta Gorete Milagres. Coisa de gênio, destaca Carlos Nunes. Ser de verdade, opina Ílvio Amaral. Um sucesso que Chico Anysio (1931-2012) também conseguiu, mas ao longo de um período de atividade profissional muito mais extenso.
Para os atores ouvidos pelo Estado de Minas, ainda que Paulo Gustavo não tenha paralelos no país, é de Chico Anysio que sua trajetória mais se aproxima.
INTENSO
“Ele conseguiu imprimir sua marca em tudo o que fez, como Chico Anysio, que interpretou milhares de personagens, mas nenhum deles era parecido. Por outro lado, todos os personagens se pareciam com ele. Então, o meu preferido era o próprio Paulo Gustavo”, destaca Carlos Nunes, que o conheceu ainda em início de carreira.
Coisa de 15 anos atrás, relembra o ator mineiro. “Eu estava no Rio de Janeiro com (o espetáculo) ‘Como sobreviver em festas e recepções com um buffet escasso’, e ele; em um teatro pequeno com ‘Minha mãe é uma peça’.
Nós nos conhecemos no Rio e, quando ele veio a Belo Horizonte para apresentar a peça no Teatro Alterosa, me deu uma cortesia. Imagina um fenômeno daquele em um teatro pequeno? Pois depois eu o vi no Chevrolet Hall”, conta Nunes. O impacto, independentemente do tamanho do palco e da plateia, foi o mesmo, ele afirma.
Fazer rir é muito mais difícil do que fazer chorar. “Se você olhar, todo humorista é muito dramático, intenso nas suas relações pessoais.
A gente sente muito as dores do mundo e o nosso negócio é transformá-las em riso. Paulo Gustavo era uma pessoa intensa, over, que usou este dom de transformação”, opina Gorete Milagres.
O humor ainda tem aquela linha tênue em que ou se faz rir, ou se cai no ridículo. “Fazer humor é um perigo, pois você se arrisca muito e, se não acertar a linha, cai no grotesco, vulgar”, observa Ílvio Amaral, que escolhe, além da onipresente Dona Hermínia, a Senhora dos Absurdos, cria do programa “220 Volts”, como uma das personagens preferidas que Paulo Gustavo criou.
“Aquela chique que usava dentadura para fora era genial. Tudo o que ele fazia era de verdade. Quando ele colocava uma prótese dentária, fazia aquilo com a maior coragem, ficava mostrando, é como se aquilo virasse parte da personalidade dele”, comenta Amaral.
Fontes www.em.com.br