Data é celebrada nesta quinta-feira (29). ‘Benefícios são vários: mentais, emocionais e até na mobilidade’, diz dançarino cadeirante que participa do Projeto PÉS.
Terapia. Essa é a palavra que o cadeirante Roges Moraes, de 26 anos, usa para descrever a dança. Ele faz parte do Projeto PÉS, uma iniciativa que une pessoas com diferentes deficiências, e outras sem deficiência, em espetáculos que misturam ritmo e teatro.
“Os benefícios da dança são vários: mentais, emocionais e até ajuda na questão da mobilidade. Então, se torna basicamente uma terapia”, diz Roges.
No Dia Internacional da Dança, celebrado nesta quinta-feira (29), Roges e outros bailarinos contam que essa arte pode ser vista como uma “uma forma de libertação”.
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O mundo como palco
“Uma pessoa com deficiência consegue, sim, dançar. A partir do momento que você acha que é capaz e quer fazer aquilo, o foco se torna o trabalho. Acho que o limite é a apenas a mente”. A frase dita por Roges virou uma espécie de mantra.
Ele tem paralisia cerebral, desde que nasceu, e o problema afeta a mobilidade. O jovem depende da cadeira de rodas para se movimentar, no entanto, essa dificuldade não o impediu de começar a dançar, há nove anos.
“Eu nunca tinha feito dança, apenas brincava com o pessoal da rua. Era só brincadeira, não pensei que ia expandir tanto o meu trabalho”, conta Roges.
Em 2012, Roges entrou no Projeto PÉS. Desde então, ele conheceu diversas cidades do Brasil e até atravessou fronteiras. Em 2017, por exemplo, foi para Bariloche – cidade da Patagônia argentina – para participar do festival “Arte por Igual”.
Para ele, um dançarino com deficiência, além de enfrentar diariamente os obstáculos físicos, precisa ainda lidar com os preconceitos. “O desafio é mostrar para as pessoas que criticam e falam mal que a pessoa com deficiência também tem a capacidade de dançar e trabalhar com a arte”, afirma.
Dança continua
Antes da pandemia da Covid-19, Roges levava, pelo menos, 2 horas de ônibus para fazer o trajeto entre a casa dele, em Ceilândia, até a Universidade de Brasília (UnB) – onde aconteciam os ensaios do projeto. “Minha mãe até comentava que era muito amor”, lembra.
Agora, a dança acontece dentro de casa. Todas as quartas-feiras, os integrantes do Projeto PÉS se reúnem pela internet (veja aqui o vídeo de um desses encontros).
“Cada um na sua casa tenta ensaiar e fazer o que dá. Fazemos isso pra que a gente não se distancie tanto e pra matar um pouquinho da saudade”, diz Roges.
Dança como porta para a universidade
Para a Marina Anchises, de 31 anos, que também faz parte do Projeto PÉS, “a dança é uma libertação de alma”. Isso porque, para ela, essa arte “não vê cor, gênero, etnia e, principalmente, não vê a deficiência”.
Marina conta que a dança mostrou que ela pode fazer “tudo do seu jeito”. Um dos exemplos, é o fato dela ter conquistado um lugar na UnB quando, em 2014, foi aprovada no curso de museologia.
Durante a graduação, a jovem fez um projeto de pesquisa no qual avaliava o PÉS. No estudo ela afirma que “os ‘deficientes’ ensinam mais do que os ‘eficientes’, são mais presentes, mais assíduos, mais pontuais e mais comprometidos, apesar de todas as dificuldades”.
A dançarina mora em Taguatinga e tem paralisia cerebral. O problema afeta a coordenação motora e um pouco da fala.
Apesar das limitações, desde os 18 anos Marina dança em grupos. “Minha avó falava que eu ia ser bailarina porque eu andava na ponta do pé em casa. Ela estava certa”, conta.
“A pessoa com deficiência é uma pessoa como qualquer outra, com vontades, desejos, sonhos e necessidades. Se ela gosta de dançar qual é o problema? Ela vai dançar do jeito dela e pronto”, diz Marina.
O Projeto PÉS
O PÉS foi criado por Rafael Tursi, em maio de 2011, como um projeto de pesquisa da UnB, mas acabou se transformando em um grupo de dança. A iniciativa é aberta à comunidade e tem como foco “fazer da dança um espaço acessível para todas as pessoas”.
Atualmente, o projeto conta com 20 integrantes, sete espetáculos e oito prêmios – um deles, o primeiro lugar Funarte Respirarte, um prêmio considerado especial pelo grupo porque não era destinado à dança de pessoas com deficiência. Competindo com outros grupos, o PÉS se destacou.
Fontes G1amazonas.com