Nos primeiros três meses de 2021, o Distrito Federal aumentou a média de testes para a covid-19, quando comparado com o ano anterior. Foram 166 mil durante os 10 meses de pandemia em 2020, e 232 mil entre janeiro e março deste ano, o que representa uma média de 16,6 mil e 21,95 mil testes por mês, respectivamente. Os dados são da Sala de Situação da Secretaria de Saúde e referentes aos testes RT-PCR recebidos pelo Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen-DF). Porém, para especialistas, os números não estão em um patamar ideal.
Apenas em março deste ano, foram 30,8 mil testes. O RT-PCR é o teste realizado pelo Lacen-DF para detectar a presença da infecção pelo vírus no organismo dos pacientes (veja Entenda os exames). De acordo com o coordenador de Atenção à Saúde Primária, da Secretaria de Saúde do DF, Fernando Damasceno, os testes são um apoio para a conduta terapêutica. “O que importa mais é como a pessoa está se sentindo. Nós não testamos assintomáticos, mas claro que, se a pessoa estiver se sentindo mal ela deve informar aos médicos”, explicou.
Fernando afirma que a secretaria busca integrar a testagem ao isolamento dos pacientes. “O ideal é a gente conseguir afastar o infectado. Estamos aumentando a nossa capacidade de testes, mas essa medida sozinha não é tão eficaz”, comenta. Ele diz que todos os casos detectados e inseridos no boletim epidemiológico divulgado diariamente pelo GDF são de pessoas testadas, e que, na verdade, mais moradores da capital devem ter tido contato com o vírus. “Temos a métrica que há pacientes com poucos sintomas ou assintomáticos”, completa.
O professor de epidemiologia da Universidade de Brasília (UnB) Mauro Sanchez explica que a testagem é importante para que os gestores saibam qual o real panorama do vírus no DF. “Com as informações corretas, o governo pode ajustar as medidas de flexibilização ou restrição ideais para se combater o avanço da covid-19”, afirma. Porém, o professor comenta que o aumento na média de testagens não indica que o DF esteja em um patamar ideal.
Ele explica que muitos casos de assintomáticos ou com sintomas leves não chegam a ser testados. “A testagem precisa ser ampliada, e a forma mais ideal de se fazer isso é por meio da busca ativa. Ou seja, os profissionais vão até a casa das pessoas, realizam os testes, identificam os casos cedo, rastreiam os contatos e, assim, quebram a cadeia de transmissão”, esclarece. Porém, Mauro ressalta que é preciso ter estoque de testes e mão de obra especializada.
Em dezembro do ano passado, a Secretaria de Saúde chegou a instaurar um inquérito epidemiológico de busca ativa de testes. O projeto tinha o objetivo de analisar a incidência dos casos de covid-19 no DF na época, e durou cerca de 18 dias. Ao todo, foram sorteadas 230 pessoas de cada uma das 34 Regiões Administrativas do DF para participar dos testes. Segundo a pasta, como a realidade da pandemia atualmente não é a mesma, uma vez que os casos apresentam aumento constante, e o índice de transmissão é diferente, ainda não há uma perspectiva de um novo inquérito do tipo a ser realizado.
Cepas
Mauro Sanchez também explica que a testagem, combinada a outras frentes de combate, pode evitar o aparecimento de novas cepas da covid-19. “Sem a real dimensão de como está o comportamento do vírus no DF, as autoridades podem tomar decisões precipitadas e, assim, acabarem prolongando a crise. E, quanto mais tempo de pandemia, mais o vírus se multiplica e sofre mutações e, com isso, ele pode escapar do sistema imunológico e até da efetividade das vacinas”, comenta.
Até o momento, de acordo com a Secretaria de Saúde, cinco variações do Sars-Cov 2 foram identificadas em amostras genéticas de moradores da capital federal. São elas: P1, encontrada inicialmente em Manaus; P2, identificada no Rio de Janeiro; B.1.1.28, uma das primeiras cepas a circular no DF; B.1.1.143, outra linhagem também já identificada em diversos estados; e a B.1.1.7, a cepa britânica da doença.
Reinfecções
Até o momento, a Secretaria de Saúde do DF encaminhou sete amostras ao Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, que se enquadram como possíveis reinfecções por covid-19 ocorridas no DF. No entanto, não houve nenhuma devolutiva pelo Instituto com qualquer caso positivo para reinfecção. Segundo a pasta, para ser considerado uma reinfecção, de acordo com o protocolo do Ministério da Saúde, é preciso que o paciente tenha dois resultados positivos de RT-PCR em tempo real para o vírus SARS-CoV-2, com intervalo igual ou superior a 90 dias entre os dois episódios.
A infectologista Ana Helena Germoglio acredita que há mais casos de reinfecção no DF, mas afirma que a logística necessária para formalizar a confirmação de reinfecção não é simples. “Não é nem uma dificuldade de ter casos. O que a gente precisaria é que os laboratórios tivessem armazenados o primeiro e o segundo RT-PCR e, depois, confirmassem se as infecções foram de uma mesma cepa”, diz.
Para a especialista, este cenário ideal de combate é difícil de ser alcançado. “Os laboratórios não costumam ter a capacidade de armazenar tantos testes. Além disso, o sequenciamento genético, método utilizado para identificar a variação do vírus, é bem complicado e não é todo laboratório que faz”, complementa. Por fim, Ana reforça que a testagem é importante para o combate ao vírus. “De qualquer forma, quanto mais a gente testar mais a gente identifica a infecção e mais rápido iniciamos o isolamento e o tratamento do paciente, diminuindo a transmissibilidade da doença”, finaliza.
Fontes www.correiobraziliense.com.br